Skip to main content

Como resultado dos trabalhos apresentados na terceira edição do Colóquio Internacional de Arquitetura Assistencial – realizada na cidade de Belém-PA –  estão disponíveis os anais do evento “III Colóquio Internacional de Arquitetura Assistencial: sustentabilidade e humanização”. Os artigos produzidos pelos pesquisadores participantes podem ser acessados pelo link: Anais do III Colóquio Internacional de Arquitetura Assistencial: sustentabilidade e humanização

Apresentação 

Cybelle Salvador Miranda e Joana Maria Balsa Carvalho de Pinho

Nesta terceira edição do Colóquio Internacional de Arquitetura Assistencial, pretendeu-se evidenciar os potenciais da arquitetura assistencial, no contexto ibero-americano, para prover cuidado à saúde global dos seres humanos, considerando a forma, implantação dos ambientes de tratamento e a adoção de métodos humanizados para obtenção de respostas aos questionamentos acerca da sustentabilidade e humanização em hospitais e demais equipamentos de saúde.

Nas edições anteriores, processaram-se discussões acerca da arquitetura assistencial no contexto do espaço luso-brasileiro, provendo uma abordagem global e pluridisciplinar, com a caracterização das várias tipologias arquitetônicas associadas, bem como, na segunda edição, tratou-se da caracterização e compreensão entre os exemplares dos primórdios da Modernidade (século XV) até o que se convencionou identificar como Arquitetura moderna (século XX), a fim de permitir o entendimento dos espaços de tratamento e cura na longa duração, em âmbito internacional. Ambas as edições permitiram a publicação das contribuições num volume de estudos e num número especial da revista Artis On dedicada à arquitetura assistencial.

No âmbito do projeto Arquitetura Hospitalar: paradigmas de sustentabilidade e humanização na contemporaneidade pós-pandêmica (CNPq Edital Universal 18/2021), a organização deste evento científico coube ao Grupo de pesquisa Arquitetura, memória e etnografia, da Universidade Federal do Pará, certificado pelo CNPq, com o Grupo Ecologias da Saúde, do Centro de Estudos Globais da Universidade Aberta de Portugal, abrangendo a Rede Ibero-Americana de Investigação Património Cultural e História da Saúde e da Assistência: estudo, divulgação e valorização (FL/Universidade de Lisboa). Compõem ainda o apoio ao evento o Programa de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo (UFPA), Laboratório de Memória e Patrimônio Cultural (UFPA), ARTIS – Instituto de História da Arte (Universidade de Lisboa) e o Centro de Estudos Globais (Universidade Aberta Portugal).

A conferência de abertura esteve a cargo da professora Gabriela Eda Campari, docente da Faculdad de Arquitectura, Diseño y Urbanismo (FADU) e da Facultad de Agronomía (FAUBA), Universidad de Buenos Aires, Argentina. Sob o tema Paisajes sensibles: practicas y percepciones en el espacio verde intrahospitalario, o marco da investigação realizada pela professora recai sobre o espaço verde intrahospitalar, do qual esta expôs os resultados e testemunhos obtidos sobre as práticas e representações sociais presentes nas áreas verdes de cincos hospitais públicos da cidade de Buenos Aires. A conferencista expôs os aspectos fundamentais da valoração patrimonial e como lugar de saúde, a partir das atividades, percepções, sensações e simbologias de quem as vivencia nos nosocômios em estudo.

O trabalho propõe o desafio de refletir e construir participativamente um olhar que visibilize estas paisagens cotidianas na agenda pública como legado cultural, ambiental e espaço de bemestar e cuidados para a comunidade hospitalar, com atitudes para melhorar a habitabilidade e a qualidade de vida no contexto adverso da hospitalização.

No segundo dia, foram debatidos os temas Assistência à saúde: o papel das Misericórdias, com a fala da Doutora Joana Balsa de Pinho, investigadora associada ao Instituto de História da Arte (Universidade de Lisboa). Na sequência, o professor Doutor Renato da Gama-Rosa Costa, integrado ao Mestrado Profissional em Preservação e Gestão do Patrimônio Cultural das Ciências e da Saúde (FIOCRUZ), com a professora Doutora Elizabeth Amorim de Castro, do Curso de Arquitetura e Urbanismo (UFPR) trataram o tema Patrimônio da saúde: processos e desafios.

As sessões de comunicação reuniram 30 pesquisas, em torno dos eixos 1. Percepção do ambiente de saúde, métodos e experiências; 2. História dos estabelecimentos assistenciais na iberoamérica e 3. Sustentabilidade ambiental: os espaços de saúde e seus entornos.

No eixo 1, reuniram-se pesquisas em sua maioria tratando-se de estudos de caso em cidades do Norte, Nordeste e Sudeste do Brasil, nas quais adotam-se métodos e conceitos de percepção ambiental, neurociência, salutogênese, biofilia, ambientes multisensorais, tendo como foco principal o bem-estar dos usuários, pacientes e profissionais da saúde, considerando o largo espectro entre os neurotípicos e neurodivergentes. Investigações que contemplam concepções projetuais para novos espaços e reformas em hospitais antigos chamam atenção para a urgência em garantir a preservação de formas e elementos valorados enquanto repositórios de memória e patrimônios da saúde no contexto latino-americano, bem como a relevância das capelas e espaços de oração na percepção integrativa dos cuidados à saúde.

Quanto às contribuições para a história dos espaços de saúde, o eixo 2 contempla pesquisas que tratam de hospitais no Norte e Sul do Brasil, bem como de um estudo em Portugal, destacando a imporância de tipologias pavilhonar e monobloco na construção do entendimento acerca das mudanças morfológicas e suas relações com os contextos sociais e dos métodos de tratamentos vigentes ao longo dos séculos XVIII ao XX. Já o eixo 3 reúne trabalhos que oscilam entre a biofilia, integração de requisitos ambientais, inovação tecnológica, avaliação da qualidade do ar via aplicativo, destacando-se estudos de caso em hospitais modernos e contemporâneos.

A consecução do evento gerou um saldo positivo para a interação entre pesquisadores e profissionais devotados à arquitetura da saúde, especialmente nas regiões brasileiras, tendo como ênfase as pesquisas de caráter social, antropológico e ambiental, reforçando os laços entre pesquisadores integrados à Rede Ibero-Americana de Investigação Património Cultural e História da Saúde e da Assistência. A oportunidade de sediar o evento no Parque Zoobotânico do Museu Paraense Emilio Goeldi foi um amplificador das discussões e da possibilidade de vivenciar a relação entre ser humano e natureza no contexto amazônico.

As contribuições que agora se reúnem neste volume servem para perenizar o evento, contribuindo para o aprofundamento de futuras pesquisas sobre a temática da arquitetura assistencial, assim como demonstram a vitalidade de um campo de estudos em expansão e consolidação.

Belém, Pará, Brasil, maio de 2024

Leave a Reply