A reportagem “Painéis de azulejos enfrentam o desafio da preservação”, publicada pela Revista Pesquisa FAPESP, discute o uso dos azulejos na arquitetura brasileira e os desafios atuais de conservação desse patrimônio, com destaque especial para o estilo popular paraense conhecido como “Raio-que-o-parta”. O texto mostra como, em várias regiões do país, os revestimentos cerâmicos se tornaram elementos marcantes da paisagem urbana — seja em murais artísticos ou nas fachadas de casas — e analisa como a falta de políticas públicas, a degradação do tempo e as reformas desinformadas colocam em risco a integridade dessas obras.
Em Belém, o estilo “Raio-que-o-parta” é apresentado como uma expressão singular da modernidade popular amazônica, marcada por fachadas revestidas com mosaicos feitos de cacos de azulejos e pisos quebrados, formando desenhos geométricos e coloridos. Esse movimento surgiu entre as décadas de 1940 e 1950, quando engenheiros, mestres de obra e moradores começaram a reaproveitar materiais descartados na construção civil.
A professora Cybelle Salvador Miranda, da Universidade Federal do Pará (UFPA), explica que o nome “Raio-que-o-parta” teria surgido de forma pejorativa, cunhado pelo arquiteto e crítico Donato Mello Júnior, que em 1966 ironizou as fachadas “agressivas e cacarias azulejadas e multicoloridas” de Belém. Com o tempo, porém, o termo foi ressignificado, transformando-se em símbolo de identidade e pertencimento para os moradores e pesquisadores que reconhecem o valor estético e cultural dessas construções.
Cybelle destaca também que, embora o estilo tenha se popularizado em Belém e em outras cidades do Pará, ele enfrenta sérios desafios de preservação. Muitas das casas são particulares, e os proprietários, sem recursos para manutenção ou conhecimento técnico, acabam substituindo os mosaicos originais por novos revestimentos. Segundo a pesquisadora, das cerca de 300 casas originais, restam hoje aproximadamente 100 ainda com as fachadas em mosaico.
Para reverter esse quadro, Cybelle ressalta a importância das ações de educação patrimonial promovidas pela UFPA e pelo Laboratório da Memória e Patrimônio Cultural (LAMEMO), que desenvolvem mapeamentos, oficinas e materiais didáticos com orientações simples sobre conservação. Ela reforça que o verdadeiro valor do “Raio-que-o-parta” está no conjunto das casas, que, vistas em conjunto, formam um retrato autêntico da criatividade e da modernidade popular amazônica, construída com poucos recursos, mas com grande inventividade e significado cultural.
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