O trabalho de conclusão de curso de Eduardo de Moraes Borges Júnior, orientado pelo professor Ronaldo Marques de Carvalho e defendido em maio de 2021, aborda um objeto de estudo singular: a Maternidade Santa Luísa de Marillac, localizada no município de Cametá, distante de Belém cerca de 150 km e situada à margem esquerda do Rio Tocantins. Deste modo, propôs-se analisar o hospital com o intuito de criar subsídios para considerá-lo patrimônio assistencial da comunidade cametaense.
Resumo
Os edifícios hospitalares proporcionam diferentes tipologias e maneiras de organização, que decorrem em função de leis que regulamentam a elaboração de projetos e construções hospitalares, projetados por um arquiteto. A atual política de saúde, tanto estadual quanto federal, cumpre um papel fundamental, propiciando a implantação de novos prédios de assistência a saúde de média e baixa complexidade, como as Unidades Básicas de Saúde (UBS) e as Unidades de Pronto Atendimento (UPA), que possam melhorar a atual rede de urgência e emergência na cidade de Cametá-Pa. Porém, o Hospital e Maternidade Santa Luísa de Marillac promove maior suporte para outras unidades no município.
A gênese da maternidade
Abordando um pouco da história do hospital, o autor observa que este nasceu na década de 60 do século XX, a partir da parceria do até então prefeito da cidade com um médico recém chegado, Doutor Pedro Roumié. Entretanto, teve sua administração inteiramente a cargo de quatro freiras advindas de uma congregação denominada “Filhas da caridade” e, por esta razão, o local é conhecido como “hospital das irmãs”.
As “Filhas da caridade” também deu origem ao atual nome do hospital, pois Luísa de Marillac, uma francesa nascida em 1591, fora a fundadora da congregação, cujo intuito era servir a Jesus Cristo através dos pobres, e em 1934 Luísa é canonizada como a patrona universal das obras sociais. A partir deste legado da congragação, as filhas trabalhavam em 78 países, incluindo o Brasil em localidades como o Rio de Janeiro, Curitiba, Belo Horizonte e a região amazônica, deixando suas contribuições em obras sociais, pastorais, educacionais, de saúde e missões indígenas.
Assim, o hospital fora construído ocupando quase um quarteirão inteiro, dispondo de 70 leitos distribuídos entre enfermarias e apartamentos, sob os cuidados de uma irmã auxiliar de enfermagem, enquanto outra irmã administrava o hospital e, outra cuidava da cozinha. Segundo as pesquisas históricas, todo o material (como camas, mesas de cirurgia, ferros cirúrgicos) necessário para o início das atividades assistenciais foram trazidos da Holanda, através dos padres holandeses da prelazia de Cametá.
Estruturalmente, o hospital fora descrito pelo médico Roumié como semelhante à Santa Casa de Misericórdia em termos de proporção, além de ser construído em forma de U e apresentar a cor branca em todas as fachadas. Aos fundos, o hospital era rodeado pelo Rio Tocantins, criando um cenário natural e de maior contato com a natureza, tendo em vista que as irmãs mantinham plantações e criações nos domínios do hospital.
Em termos de nomenclatura, o hospital recebeu o nome de Hospital Dr. Ângelo Correa, em homenagem ao médico cametaense que dedicou sua vida à atender os enfermos assolados pela pandemia de cólera. Posteriormente, passou a ser chamado de Hospital de Cametá. A partir de 1964, Suzana Frazão (uma irmã da congregação) chega na cidade para prestar serviço ambulatorial no hospital, identificando o alto índice de óbito materno-infantil e direcionando a prioridade de atendimento à gestantes. Assim, iniciou-se a maternidade “Marè Lepicard”, modificada para Maternidade Santa Luísa de Marillac somente em 2009.
Os dias atuais
Atualmente o Santa Luísa de Marillac funciona como prédio hospitalar de média e baixa complexidade, atendendo casos ambulatoriais desde o início, além disso, a maternidade é qualificada como hospital de caráter beneficente de assistência social, filantrópico, de cunho religioso e de utilidade pública. Em 2018, a falta de verbas por parte da prefeitura ocasionou na quebra de contrato com o Sistema Único de Saúde (SUS), e o hospital passa a ser particular. Contudo, posteriormente o contrato é reativado, proporcionando assistência em apenas em algumas especialidades.
Não é incomum que hospitais antigos necessitem passar por reformas constantes a fim de adaptar a estrutura às novas demandas, que modificam rapidamente. Deste modo, é perceptível que a maternidade Marillac sofreu e ainda sofre diversas mudanças, adaptações e reformas. As últimas reformas ocorreram através de verbas advindas do governo federal, por meio da portaria nº 1488 de 29 de maio de 2020, a fim de melhorar o atendimento à população e o enfrentamento da pandemia de Covid-19.
Um pouco da estrutura física
O autor inicia suas análises pela implantação do hospital, cujas conclusões asseveram a necessidade de melhorias no entorno a fim de melhor atender a população. Fatores como vias de acesso, aspectos ambientais como ventilação e iluminação e proteção sonora, número de vagas de estacionamento e paisagismo foram apontados como passíveis de serem modificados.
A respeito das reformas e ampliações, cabe destacar as obras da pediatria, que visam aumentar o número de leitos e apartamentos, além de adequá-la às normas brasileiras hospitalares. Contudo, a construção de uma rampa de acesso ao setor a partir do exterior do prédio não apresenta boa configuração estética, e irá aumentar o percurso para o trânsito de funcionários e pacientes pelo local.
Outro exemplo citado é o necrotério do hospital, implantado em uma área de grande fluxo de pessoas e veículos. O local está sendo reformado a fim de oferecer melhores servições, contudo, o autor reitera que o ideal de implantação de um necrotério seria em áreas distantes do fluxo de pessoas, isolando-se as entradas para as vias de maior fluxo, mas com um bom acesso para veículos de funerárias. Preceitos estes difíceis de serem seguidos à risca, tendo em vista que a estrutura do hospital já está consolidada.
Além do mais, elementos como as escadas, circulações internas, enfermarias e apartamentos, instalações elétricas, casas de manutenção, auditório, entre outros, foram analisados quanto à adequação às boas concepções do projeto arquitetonico de um hospital. Dentro da concepção projetual hospitalar três fatores precisam de especial atenção: funcionalidade, flexibilidade e expansibilidade.
A funcionalidade de um hospital é o objetivo aspirado pelo projetista (arquiteto), mas dependerá do fator subjetivo para o seu total rendimento, pois o improviso de uma determinada situação provocará certo nível de prejuízo […].
A flexibilidade é o conceito de projeto no qual é considerada a dinâmica dos espaços hospitalares, suas constantes ampliações, modificações e adaptações, exigindo capacidade de se adequar a renovação das funções e dos equipamentos. Uma decorrência dela é a expansibilidade, demanda gerada pelo aumento no número de pacientes atendidos e na inclusão de novos sistemas de diagnótico e tratamento.
Neste sentido, as propostas de melhorias objetivam principalmente promover o bem-estar do paciente. O estudo do hospital Santa Luísa de Marillac versa sobre a importância de seu funcionamento para o município de Cametá, bem como intenta resgatar e refletir a respeito das memórias que permeiam o local. Por conseguinte, a pesquisa visa dar visibilidade ao hospital enquanto patrimônio da saúde de Cametá, a partir de um registro de informações referentes a edificação, realizadas em plena vigência da Pandemia de Corona Vírus, que concluem com um manual de diretrizes para futuras intervenções.
Por fim, cabe mencionar que:
Nunca será demais ressaltar, no entanto, que um hospital é um organismo em permanente adequação a uma realidade funcional e economica mutável, necessitando do gerenciamento contínuo de um Plano Diretor, que não pode constituir-se numa peça rígida, e sim que represente o resultado da elaboração contínua e a interação entre as diversas profissões, envolvidas no atendimento de saúde (MORAES, 2021, p. 28).
Referência
BORGES JUNIOR, Eduardo de Moraes. Maternidade Santa Luísa de Marillac: diagnóstico de uma unidade de saúde em Cametá-Pará. Trabalho de Conclusão de Curso. Faculdade de Arquitetura e Urbanismo. Universidade Federal do Pará, 2021.