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O diário do Pará, sexta-feira, 15/10/2010

O lixo, próximo a monumentos, afasta ainda mais a população. Foto: Wagner Santana

 

Embora os monumentos históricos tenham a função de imortalizar e homenagear personagens ou momentos importantes da história de um povo, além de desempenhar um papel estético e de memória, Belém vive um momento sério de descaso e de falta de manutenção. Na cidade, verdadeiras obras de arte esculpidas nos séculos XIX e XX por artistas plásticos renomados de países como Itália e França estão se perdendo em meio ao lixo, mato e na memória da população.

Para Cybelle Miranda, professora e coordenadora do Laboratório de Memória e Patrimônio Cultural da Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal do Pará (UFPA), um dos fatores para o descaso com o patrimônio histórico de Belém é o próprio desconhecimento da população em relação aos monumentos.

“As pessoas não sabem a quem são dedicadas as esculturas e, se sabem, desconhecem a importância histórica. Essa é uma marca negativa para Belém, já que a população não valoriza a própria cidade. Por aqui, falta valorização da identidade cultural e histórica”, explica a professora.

ABANDONO

Entre os monumentos mais abandonados de Belém está a escultura de José da Gama Malcher, erguido na Praça Barão do Rio Branco, conhecida como Largo das Mercês, no Comércio. A estátua foi esculpida na França e erguida em agosto de 1890. José Malcher foi Governador do Pará, mas quase ninguém conhece a sua história. Por ali, os mendigos dormem na estátua, o lixo fica acumulado e o mato está tomando conta do espaço delimitado para a obra de arte.

O trânsito de pessoas é comum, mas são poucos os que pelo menos olham a estátua. As pichações também estão presentes. Funcionária de uma loja localizada próximo à Praça, a vendedora Aline Rodrigues passa todos os dias pelo monumento, mas confessa que nunca prestou atenção na estátua e só soube o nome do homenageado porque leu na inscrição. “Aqui é um fedor horrível de urina, por isso talvez poucas pessoas prestem atenção. Além disso, também tem muito pivete por aqui. Só sei que ele (José Malcher) foi importante para a historia do Pará”.

O monumento à República, um dos mais importantes de Belém, localizado na Praça da República, também sofre com a falta de manutenção. Apesar de a ele ser dedicado um pouco mais de cuidado, as estátuas estão pichadas e cobertas de limo. Os holofotes estão sem as lâmpadas. O monumento, de 20 metros de altura, foi fabricado em mármore de carrara na Itália e erguido em 1897. “O local é de referência em Belém, mas também sofre com a poluição visual. A imensa quantidade de prédios naquela área tira o destaque dos monumentos históricos teriam que ter”, explica Cybelle Miranda.

Ela diz ainda que não só os monumentos elevados caem no esquecimento, mas também os enterrados. Na Praça do Carmo, as ruínas arqueológicas da Igreja do Rosário dos Homens Brancos, tombada por Lei Federal, são vistas apenas como “três buracos”. A Igreja foi derrubada na década de 40, mas um projeto da Prefeitura de Belém, já na década de 90, trouxe à tona os alicerces do prédio e o colocou em exposição. Alguns pontos ficaram à mostra e foram cobertos com policarbonato. Porém, a atual realidade dos monumentos é lamentável.
Não existe ali nenhuma sinalização do que se trata o local. Por outro lado, não há nada que possa ser visto no espaço, já que o mato e o lixo tomaram conta do local. Cinzas indicam que até fogueira é queimada por cima das ruínas. Moradores afirmam que o local assume a função de lixeira, banheiro público e motel. “Não há nenhuma manutenção aqui e ninguém sabe o que significam esses buracos. Nem a prefeitura vem limpar”, disse um morador que não quis se identificar.

Para a professora Cybelle Miranda, se o povo não conhece a sua história, corre o risco de repetir os mesmos erros. “O próprio turismo fica prejudicado com essa situação. Nem o poder público e nem a sociedade se preocupam em manter viva a riqueza do patrimônio histórico da cidade”.

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